Respondendo ao chamado das mamães do Blog Desabafo de Mãe, segue minha reflexão sobre a amamentação e a necessidade de sermos ativistas desta causa tão sublime. Neste pequeno relato falo sobre a ligação da amamentação com o peito que antes era enfeite, com o parto que me foi roubado, com o apoio recebido de profissionais e da família, com a volta ao trabalho e com as dores e delicias de dar de mamar!
Como uma amiga da lista do Parto Nosso disse, a amamentação era um vinculo que a cesárea não havia me roubado e eu resolvi busca-la com as forças que não tive (ou não soube usar) para buscar o meu parto. Amamentar se tonou um desafio, uma forma de alimentar meu filho e minha alma, de me fazer sentir capaz de cuidar daquela criança que eu havia feito, gerado, mas infelizmente, não havia parido.
Tive muito medo do leite não descer por causa da cesárea e das próteses, mas fui abençoada com leite em abundancia e meu pequeno mamou logo que nasceu e foi aí, exatamente aí que eu comecei a entender o porquê de tantas campanhas a favor da amamentação: sonolenta, sem poder me movimentar direito por causa da cirurgia, na ânsia de coloca-lo no peito e esquecer do parto que eu não tive, ganhei um peito ferido logo na primeira noite e muita, mas muita dor ao amamentar.
Eu rezava para não desistir e perguntava: Deus, por que um ato tão lindo, de tanto amor e doação pode me fazer sentir tanta dor? Cheguei a pensar que aquilo tudo era uma vingança da natureza contra mim por eu não ter sentido as dores do parto ou que era uma consequência da colocação das próteses. Quase como uma resposta às minhas orações, Deus me enviou três anjos do céu para me ajudar na missão de amamentar o Daniel: meu companheiro, pai do meu filho que em todas as mamadas levantava comigo, me ajudava a fazer um charutinho do bebê e literalmente, colocava a boquinha dele no meu peito para que a boa pega (meu sonho de consumo na época) acontece de primeira; minha doula de gestação que me ensinou como pôde, antes e logo após o parto, o que era possível se passar na teoria e minha doula de amamentação, a pessoa que mais eu me alegrava em ver nos primeiros dias pós-parto, que com mãos de fada massageava meu peito e colocava meu filho para mamar.
Os primeiros dois meses de amamentação foram uma sucessão de dor e angustia, principalmente quando eu via meu bebe regurgitando o sangue que ingeria com o leite. Ordenha manual, ordenha mecânica, concha, massagem, pomada e ainda assim amamentação ininterrupta, independente da dor.
Voltei a trabalhar cinco meses após o parto e para não deixar meu filho com formulas e mamadeiras, chegava a abrir seis porteiras sozinha, ida e volta, para amamenta-lo. Exausta, cansada e ainda com dor, além de amamentar, ordenhava para deixa leite congelado para dar no copinho, caso eu viesse a faltar alguma hora.
O tempo e a persistência curaram as cicatrizes e enfim entrei na lua de mel da amamentação. Hoje, ainda amamentando, vejo que fui uma pessoa abençoada e que se não tivesse tido todo o apoio em casa e a estrutura financeira que me possibilitou investir em ajuda, eu dificilmente teria conseguido. Entendi enfim o porquê de tantas mães não amamentarem e o porquê de tantas campanhas publicitárias para um país onde mães deixaram de parir e agora parecem estar deixando também de amamentar.
Sou ativista da amamentação por que amamentar é lindo. É um momento único onde mãe e filho estão novamente ligados por um cordão de leite, em sintonia total, em um gesto de amor e doação de ambos.